Daniela Bertocchi, jornalista e pesquisadora, blog Intermezzo, discute neste texto o jornalismo participativo e como os webjornais brasileiros desenvolvem o seu relacionamento com o cidadão-repórter. Como ela, eu, Carmen Carvalho, concordo que existe a necessidade um novo termo para explicar a interação entre os jornalistas, o cidadão e os webjornais. Os conceitos de jornalismo participativo e jornalismo cívico não dão mais conta dos novos fenômenos de interatividade que a internet está possibilitando. O jornalismo precisa se reescrever, ser prático e compreendido como uma construção mais plural da realidade. Confira abaixo a discussão.
De acordo com a pesquisadora, o jornalismo colaborativo deve ter uma interferência mínima ou nula dos jornalistas no conteúdo produzido pelos usuários; no cívico, ao contrário, existe um controle da interação por meio da edição, da filtragem de informações e da moderação da participação dos usuários. Portanto, o "“jornalismo participativo” (colaborativo) ocorre quando um cidadão, ou grupo de cidadãos, assume uma função ativa no processo de recolha, reportagem, análise e divulgação de notícias e informações. O objetivo desta participação é fornecer aquilo que um sistema democrático exige: informação independente, confiável, acurada e variada." O “jornalismo cívico”, por outro lado, procura encorajar a participação, mas as organizações noticiosas mantêm um elevado nível de controle através da determinação da agenda temática, da seleção dos participantes e da moderação das conversas.
Sendo, assim, explica a pesquisadora, "é completamente natural não encontrarmos a prática do jornalismo colaborativo nos grandes portais brasileiros, uma vez que sabemos que estes são projetos de tradição jornalística que claramente defendem o jornalista profissional como aquele capaz de editar, filtrar, checar etc. as informações com mais propriedade e melhor rigor do que qualquer um outro profissional ou cidadão. E o leitor não é percebido como jornalista profissional. Torna-se um colaborador importante, mas não essencial para o funcionamento da máquina jornalística."
Para fundamentar o seu argumento, Bertocchi cita o caso do UOL. Segundo ela, o site "errou ao publicar uma foto de leitor sem antes passar um olhar atento sobre a imagem. E acertou em assumir o erro. Este processo revelou exatamente como as coisas são entendidas pelos portais: deve ser exercido o controle do jornalista através da edição, da filtragem de informações e da moderação da participação dos usuários. Fundamental é mesmo o corpo de jornalistas presentes da redação, profissionais com habilidades e competências para desempenhar as suas funções com qualidade. Ou seja, não existe jornalismo colaborativo nos portais brasileiros. Se existisse, não haveria a lógica do “erro”. Em vez do “filtro, logo publico”, ficaríamos com o “publico, logo filtro” e tudo bem (processo de construção conjunto entre comunidades). Aí reside a diferença fundamental. "
Resulta que para a pesquisadora "no ciberjornalismo existe, na verdade, uma “liberdade simulada” do leitor, e não propriamente uma “liberdade real. Resta saber mesmo é como o jornalismo vai transcender o seu atual papel nas sociedades contemporâneas…"