A Rede Mundial de
computadores é ferramenta indispensável na vida de milhões de
brasileiros. Além de fonte quase inesgotável de pesquisa, a Internet é um
meio capaz de - com agilidade e eficiência - comunicar e entreter. Com sua expansão, tornou-se urgente o debate sobre os direitos dos conteúdos virtuais.
Sergio Melo - Sim, alguns anos mais tarde, como autor-roteirista. Lá, nenhum autor detém os direitos autorais de seus textos. Assim que você é empregado, assina um contrato pelo qual você abre mãos dos direitos de tudo o que fizer sob encomenda e o que vier a propor à empresa. Até aí tudo bem porque você está recebendo um salário e faz parte do jogo arriscar. Atualmente, a Globo se recusa a receber qualquer proposta de autores que não sejam contratados pela casa porque não quer mobilizar o seu jurídico com litígios sobre autoria de nada.
Sergio Melo - Quem ganha rios de dinheiro são as gravadoras. Se pensarmos no lucro dos músicos, sejam autores ou intérpretes, esse é mínimo em comparação ao dos detentores dos meios de reprodução mecânica. Quando a pirataria dá uma mordida nesses tais lucros, de quem está no mercado vorazmente a fim de multiplicar os seus milhões, não tenha a menor dúvida de que o primeiro a perder será o músico.
Sergio Melo - A questão da Internet e direitos autorais estão em voga neste momento em que um novo veículo de comunicação se desenvolve a passos gigantescos. Ela precisa ser analisada com cuidado. A produção intelectual é uma produção como outra qualquer do ponto de vista de sobrevivência: há pessoas que lavam carros, outras que vendem trens-bala e outras que fazem poemas. Tudo isso é produção. Aliás, em grego, "poesia" quer dizer "produção".
Escher - Drawing Hands (1948) |
No mundo, a discussão ganhou destaque nas diversas mídias. No Brasil, a Lei que “altera, atualiza e consolida a legislação
sobre direitos autorais” é a 9.610, aprovada em 1998. São apenas oito artigos, que não tratam
exclusivamente da mídia online e, perto de completar 14 anos, se
encontram em atraso.
Com intuito de sanar tal
carência, um anteprojeto de Modernização da Lei de Direito Autoral (LDA),
encontra-se na Casa Civil. O texto passou por consulta pública em 2010 e,
apesar da atualização, não deve resolver os conflitos quanto ao Direito Autoral
na Internet. Ela tratará da questão das violações nos
diversos meios, mas sem ser específica. Assim - rádio, TV, impressos e internet - serão abordados sem a diferenciação devida.
O debate sobre a posse
dos conteúdos virtuais deve ser longo e, para entendê-lo melhor, vale apresentar
exemplos de como funcionou/ funciona a proteção da autoria em outras mídias. Para isso,
entrevistamos Sergio Melo, professor-doutor da UFBA. Ele, que é também
roteirista e tradutor, tratou de seus
trabalhos na TV e na literatura, além de falar o que pensa sobra a questão na
música e na Internet. Uma visão de quem teve obras envolvidas em diferentes situações.
Interatividade: Como
começou sua experiência com Direitos Autorais?
Sergio Melo: De modo traumático.
Ao voltar ao Brasil, depois de me formar como dramaturgo pela Scuola d'Arte
Drammatica Paolo Grassi, de Milão, constatei que o único caminho para
tentar um emprego, como roteirista na Globo, era o programa "Você
Decide". Depois de uma tempestade mental bem cuidadosa, enviei dois
argumentos verdadeiramente garimpados. Sem receber resposta, telefonei
para a casa do chefe de redação e ouvi, além de elogios inúteis à minha escrita,
que o senhor que recebera os meus argumentos não os poderia aproveitar porque
alguém tinha enviado algo parecido. Um argumento que eu tinha desenvolvido, a
partir de um livro que eu tinha acabado de traduzir sobre crianças portadoras
de deficiências, foi ao ar algumas semanas mais tarde. O crédito da autora do
argumento era atribuído a um parente colateral desse senhor. Furto ou
coincidência? Embora tenha um palpite, nunca saberei ao certo.
Interatividade - Mas você chegou a ser
contratado pela TV Globo.
Sergio Melo - Sim, alguns anos mais tarde, como autor-roteirista. Lá, nenhum autor detém os direitos autorais de seus textos. Assim que você é empregado, assina um contrato pelo qual você abre mãos dos direitos de tudo o que fizer sob encomenda e o que vier a propor à empresa. Até aí tudo bem porque você está recebendo um salário e faz parte do jogo arriscar.
Interatividade - E não o incomodava ver seus trabalhos sem sua autoria?
Sergio Melo - Não pude achar maneiro não ter meu nome em alguns programas para os
quais escrevi. Por exemplo, se você colocar o meu nome no IMDB, a maior base de
dados referente a produções audiovisuais do mundo, vai verificar espantosamente
que tenho apenas um crédito depois de ter trabalhado na televisão por seis
anos. Para fins curriculares a própria Globo teve que me dar uma declaração comprovando
meus trabalhos.
Interatividade - Com relação aos livros que
traduziu, como funciona?
Sergio Melo - Tenho traduzido Pirandello para a editora
paulista Alaúde – Tordesilhas. Desde o início acertei que os direitos da
publicação iriam para eles, mas os direitos de encenação seriam meus. E,
independentemente do que eu venha a fazer com esses direitos (por exemplo,
doá-los a uma montagem que não tenha chances de lucrar com o empreendimento),
faço questão de tê-los porque dediquei horas inimagináveis a esse trabalho.
Interatividade - O que pensa da pirataria na produção musical?
Sergio Melo - Quem ganha rios de dinheiro são as gravadoras. Se pensarmos no lucro dos músicos, sejam autores ou intérpretes, esse é mínimo em comparação ao dos detentores dos meios de reprodução mecânica. Quando a pirataria dá uma mordida nesses tais lucros, de quem está no mercado vorazmente a fim de multiplicar os seus milhões, não tenha a menor dúvida de que o primeiro a perder será o músico.
Interatividade - E, finalmente, a Internet. Como veria seus trabalhos expostos na Rede?
Sergio Melo - A questão da Internet e direitos autorais estão em voga neste momento em que um novo veículo de comunicação se desenvolve a passos gigantescos. Ela precisa ser analisada com cuidado. A produção intelectual é uma produção como outra qualquer do ponto de vista de sobrevivência: há pessoas que lavam carros, outras que vendem trens-bala e outras que fazem poemas. Tudo isso é produção. Aliás, em grego, "poesia" quer dizer "produção".
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