quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A voz do novo webjornalismo

O jornal online 'Voice of San Diego' tem apenas 7 anos e já é apontado pelos membros da imprensa - e claro, pela comunidade da cidade de San Diego, nos Estados Unidos - como um dos melhores jornais da América.

O 'Voice of San Diego' nasceu em meio à uma crise - assim como todas as boas ideias - e encontrou uma solução, observando os erros cometidos pelos outros. Na época de sua criação, o mundo enfrentava uma crise estranha, que punha em cheque grandes jornais ao redor do mundo.

Essa crise dos jornais não era uma crise de papel, muito menos apenas financeira. Teve sua origem na manipulação das notícias e na falta de compromisso com o código de ética. Foi o que levou o New York Times, um dos jornais mais respeitados do mundo, a perder milhares de leitores. Na era Bush, o jornal publicou uma série de reportagens tedenciosas, o que não foi tolerado por parte do público. A partir daí, iniciou-se uma reação em cadeia - o leitor não comprava o jornal, a publicidade não investia mais, e o jornal perdia grande parte de sua receita. Era menos vergonhoso culpar a instabilidade financeira mundial do que assumir o impublicável: a falta de zelo com o jornalismo levou ao fim da credibilidade dos principais jornais do mundo.

Mas o que o 'Voice of San Diego' tem ou fez para que um dia pudesse competir com esses jornais? Ao menos em uma escala menor, o pequeno 'Voice', vencedor de prêmios e de público, nada deve aos veículos mais famosos. E se você ainda não conhece o futuro do jornalismo, deveria saber que o "dinheiro" é apenas um detalhe, importante, mas ainda assim um detalhe.


O webjornalismo e a ética

A mudança da plataforma impressa para a digital foi apenas uma questão de logística. Mais barata, a web permitiu o 'Voice of San Diego' depender menos do dinheiro, e também, atingir de maneira mais satisfatória o seu público. O jornal é um caso raro de um veículo de comunicação sem fins lucrativos, recebe doações e não depende da publicidade. Não tem o "rabo preso" e é totalmente apartidário.

Sua missão é "Garantir de maneira consistente o jornalismo investigativo para a região da cidade de San Diego. Aumentar a participação civil dando ao povo a participação por meio do conhecimento e de análises profundas necessárias para torná-los fiscalizadores para um bom governo e progresso social".

Isso é possível pois o jornal pode viabilizar o exercício do bom jornalismo sem ter que prestar contas aos "investidores". A única prestação é a de garantir notícias bem fundadas. As doações são feitas pelo site do jornal e as contas expostas para a averiguação dos contribuintes.



Uma das sessões mais acessadas no site é ao Fact Check, onde os jornalistas analisam um fato e medem o grau de verdade dele.




O Observatório da Imprensa reuniu os pontos mais interessantes do Manual de Redação e Conduta do 'Voice'.

1. Em cada reportagem há três itens obrigatórios: contextualização, conhecimento de causa e não se limitar a dizer o que está acontecendo, mas o qual o significado do que está sendo informado.

2. Não existe objetividade. Cada pessoa, inclusive os repórteres, vê a realidade através de filtros pessoais. Reconheça a diversidade de opiniões e deixe que ela oriente seu trabalho.

3. O manual afirma que os repórteres não são guiados por identidades políticas ou ideológicas, mas cada decisão que tomam é feita a partir de sua própria subjetividade.

4. Não existe equilíbrio metade/metade. Existe a verdade e temos que fazer todo o possível para chegar até ela.

5. Na maioria dos casos não existem apenas dois lados do problema, existem muitos e todos merecem tratamento igual. Pergunte-se, sempre, quem não está sendo representado na notícia ou reportagem.

6. Não faça perguntas em sua reportagem. Dê respostas.

7. Evite sempre a fórmula, “fulano disse”, “ciclano declarou” . Nós não somos uma página de transcrições.

8. Se alguém o acusar de tendencioso, não se assuste, também não trate de negar. Pense no problema e responda com convicção.

9. Não disfarce as suas opiniões pessoais citando outras pessoas.

10. Siga esta regra: o jornalismo é bom para resolver pequenos problemas e para arranhar grandes questões. Ele nunca foi bom para solucionar grandes problemas.

11. Não se preocupe em ser furado. O que deve lhe preocupar é o fato de não estar gerando impacto com sua informação.

12. Não faça como o ratinho do carrossel: correr o tempo todo sem sair do lugar. Não adianta ter pressa só para atender a um deadline.

13. Evite o jargão jornalístico. Escreva uma história como se a estivesse contando para um amigo numa mesa de bar.

14. Nós não fazemos jornalismo por dinheiro. Nosso trabalho tem que ser prazeroso.


Jornalismo Cidadão

Dar ao povo ferramentas para que ele seja o fiscalizador do seu próprio governo para que desse modo ele possa se auto-governar. Se isso soa familiar aos seus ouvidos, entenda que esse é um dos preceitos dos jornais, seja impresso ou não. A interatividade proposta pelo 'Voice', além de matérias sérias e analíticas, dão aos cidadãos de San Diego essa possibilidade.

O Jornalismo Cidadão é o tipo de jornalismo feito pelo povo e para o povo. A responsabilidade do jornal está em averiguar a veracidade dos fatos e investigar os indícios das irregularidades. O povo serve como uma patrulha constante das coisas boas e ruins de sua cidade.




No 'Voice', o menu de interatividade fica bem visível e a participação dos cidadãos de San Diego é um ingrediente essencial para o funcionamento do jornal.

Sem previsões, o webjornalismo dá exemplo de como o jornalismo responsável é viável e possível.

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