Por Carlos Castilho
Observatório da Imprensa
A edição 2012 do informe sobre o estado da imprensa norte-americana aponta uma tendência que pode mudar a cara das indústrias da comunicação tanto lá como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Trata-se do crescente interesse das principais empresas da internet nos conglomerados jornalísticos que controlam os mais importantes jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão do planeta.
Amazon, Google, Facebook, Yahoo! e Apple emitiram recentemente claros sinais de que podem se aproveitar das dificuldades da imprensa convencional em enfrentar a aguda queda de receitas publicitárias para fazer “ofertas irrecusáveis” de parcerias em que a cereja do bolo é o valiosíssimo arquivo de notícias publicadas ao longo de mais de um século -- e a não menos cobiçada relação entre jornais e revistas com um público fidelizado há décadas.
Até agora as gigantes da internet preocupavam-se quase que exclusivamente em disputar mercados digitais entre si, sem dar muita importância para a imprensa convencional, vista com um certo desdém pelos executivos de Silicon Valley, a Meca dos empreendedores e nerds da internet.
Mas segundo o informe State of the News Media 2012, tudo isso está mudando. O YouTube fechou uma parceria com a Reuters, por meio da qual agência de notícias começará a produzir documentários jornalísticos para serem divulgados conjuntamente pelo site de vídeos controlado pela empresa Google e pela Reuters TV. O Yahoo! fez um acordo com a rede norte-americana de televisão ABC para ter a exclusividade de divulgação dos telejornais e séries da emissora ligada ao grupo Disney.
A empresa America Online (AOL) comprou o site de noticias políticas The Huffington Post, que servirá de base informativa para um sistema de notícias 24 horas similar ao da rede CNN. Por seu lado, a rede social Facebook fechou um acordo com o The Washington Post, The Wall Street Journal e o matutino inglês The Guardian para que o site Social Reader sirva de fórum online para debates entre leitores desses jornais . No início de março, um dos fundadores do Facebook comprou a quase centenária revista The New Republic, um dos ícones da intelectualidade norte-americana.
Este avanço das grandes empresas digitais em direção ao mundo jornalístico analógico pode mudar a cara da imprensa e acelerar a mudança de comportamentos e valores no consumo de notícias na maior parte dos países. Seria um golpe de misericórdia nos cambaleantes impérios jornalísticos tradicionais e um empurrão para que todos nós sejamos levados a dar um salto no escuro em matéria de comportamentos informativos.
Até agora, quem ia às compras eram os conglomerados jornalísticos tradicionais fascinados pela ideia de que a convergência de veículos lhes garantiria a redução de custos necessária para sobreviver ao tsunami financeiro provocado pela queda de quase 4,5% na massa de leitores de jornais, setor onde a redução de receitas chegou a assustadores 7,2% desde 2010. Nas revistas e redes de TV, a queda foi de respectivamente 5%, 6% e 3,7%, segundo o State of the News Media 2012. Em compensação, no mesmo período de tempo, a publicidade em veículos online disparou em 23% sem, no entanto, apresentar um desempenho financeiro capaz de torná-la autossuficiente.
Agora a tendência está se invertendo, mas o importante não é a questão financeira, mas sim a mudança cultural que as compras feitas pelos executivos do Vale do Silício vão provocar no meio jornalístico. A mudança tende a se acelerar na medida em que o comando das políticas editoriais passará para as mãos de jovens empreendedores que tiveram sucesso na internet usando como alavanca a combinação de interatividade com o público e desenvolvimento de mega bancos de dados com informações sobre os usuários da rede mundial de computadores.
O cenário não se mostra necessariamente apocalíptico, mas não há muitas dúvidas de que pode significar um pulo do escuro, já que é muito difícil prever o perfil da imprensa que emergirá dessa mudança de paradigmas informativos. A internet está provocando o surgimento de muitas coisas boas em matéria de democratização no acesso à informação, mas ainda é impossível saber se o processo deflagrado pelas grandes empresas do mundo digital não conduzirá a uma nova concentração de poder de decisão.
São duas tendências opostas sem desfecho previsível. É aí que está o pulo no escuro.
Observatório da Imprensa
A edição 2012 do informe sobre o estado da imprensa norte-americana aponta uma tendência que pode mudar a cara das indústrias da comunicação tanto lá como no resto do mundo, inclusive no Brasil. Trata-se do crescente interesse das principais empresas da internet nos conglomerados jornalísticos que controlam os mais importantes jornais, revistas, emissoras de rádio e de televisão do planeta.
Amazon, Google, Facebook, Yahoo! e Apple emitiram recentemente claros sinais de que podem se aproveitar das dificuldades da imprensa convencional em enfrentar a aguda queda de receitas publicitárias para fazer “ofertas irrecusáveis” de parcerias em que a cereja do bolo é o valiosíssimo arquivo de notícias publicadas ao longo de mais de um século -- e a não menos cobiçada relação entre jornais e revistas com um público fidelizado há décadas.
Até agora as gigantes da internet preocupavam-se quase que exclusivamente em disputar mercados digitais entre si, sem dar muita importância para a imprensa convencional, vista com um certo desdém pelos executivos de Silicon Valley, a Meca dos empreendedores e nerds da internet.
Mas segundo o informe State of the News Media 2012, tudo isso está mudando. O YouTube fechou uma parceria com a Reuters, por meio da qual agência de notícias começará a produzir documentários jornalísticos para serem divulgados conjuntamente pelo site de vídeos controlado pela empresa Google e pela Reuters TV. O Yahoo! fez um acordo com a rede norte-americana de televisão ABC para ter a exclusividade de divulgação dos telejornais e séries da emissora ligada ao grupo Disney.
A empresa America Online (AOL) comprou o site de noticias políticas The Huffington Post, que servirá de base informativa para um sistema de notícias 24 horas similar ao da rede CNN. Por seu lado, a rede social Facebook fechou um acordo com o The Washington Post, The Wall Street Journal e o matutino inglês The Guardian para que o site Social Reader sirva de fórum online para debates entre leitores desses jornais . No início de março, um dos fundadores do Facebook comprou a quase centenária revista The New Republic, um dos ícones da intelectualidade norte-americana.
Este avanço das grandes empresas digitais em direção ao mundo jornalístico analógico pode mudar a cara da imprensa e acelerar a mudança de comportamentos e valores no consumo de notícias na maior parte dos países. Seria um golpe de misericórdia nos cambaleantes impérios jornalísticos tradicionais e um empurrão para que todos nós sejamos levados a dar um salto no escuro em matéria de comportamentos informativos.
Até agora, quem ia às compras eram os conglomerados jornalísticos tradicionais fascinados pela ideia de que a convergência de veículos lhes garantiria a redução de custos necessária para sobreviver ao tsunami financeiro provocado pela queda de quase 4,5% na massa de leitores de jornais, setor onde a redução de receitas chegou a assustadores 7,2% desde 2010. Nas revistas e redes de TV, a queda foi de respectivamente 5%, 6% e 3,7%, segundo o State of the News Media 2012. Em compensação, no mesmo período de tempo, a publicidade em veículos online disparou em 23% sem, no entanto, apresentar um desempenho financeiro capaz de torná-la autossuficiente.
Agora a tendência está se invertendo, mas o importante não é a questão financeira, mas sim a mudança cultural que as compras feitas pelos executivos do Vale do Silício vão provocar no meio jornalístico. A mudança tende a se acelerar na medida em que o comando das políticas editoriais passará para as mãos de jovens empreendedores que tiveram sucesso na internet usando como alavanca a combinação de interatividade com o público e desenvolvimento de mega bancos de dados com informações sobre os usuários da rede mundial de computadores.
O cenário não se mostra necessariamente apocalíptico, mas não há muitas dúvidas de que pode significar um pulo do escuro, já que é muito difícil prever o perfil da imprensa que emergirá dessa mudança de paradigmas informativos. A internet está provocando o surgimento de muitas coisas boas em matéria de democratização no acesso à informação, mas ainda é impossível saber se o processo deflagrado pelas grandes empresas do mundo digital não conduzirá a uma nova concentração de poder de decisão.
São duas tendências opostas sem desfecho previsível. É aí que está o pulo no escuro.
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