terça-feira, 8 de novembro de 2011

Eleições: campanhas digitais ganharão mais importância

Entrevista com Felipe Vaz - diretor da produtora Tecnopop e gerente nas produtoras Canvas e Raven10, atuou na linha de frente da campanha à Presidência da República de Marina Silva nas eleições de 2010, como coordenador de mídias sociais da candidata.

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Atualmente, as mídias sociais têm sido um mecanismo de expansão de propostas e plataforma de campanha. Como o senhor enxerga a próximas campanhas tento em vista o aumento do número de usuários a cada dia de sites de relacionamento, tais como facebook e twitter?
Imagino que as campanhas digitais, sobretudo o uso das mídias sociais, ganhe mais importância, e deixe de ser uma pequena parte da maioria das campanhas

Acredita que estes mecanismos podem atingir a massa ou que é uma maneira de melhor se comunicar com os mais jovens apenas?
É possível atingir a massa, sem dúvida: as classes C e D já são a maioria na internet, e cerca de 50% da população tem acesso à internet.

Qual a melhor estratégia de utilização das redes sociais no contexto político?
Eu vejo várias formas, e elas vão variar para cada campanha. Sobretudo, é preciso dialogar com os eleitores, informá-los, esclarecer pontos sobre as propostas, e escutá-los. Se o candidato souber escutar o eleitor, vai ver que suas propostas encontram reverberação, e vai poder aproveitar a colaboração de seus eleitores nas redes em suas campanhas.

Como explicar a ampliação das redes sociais em tão pouco tempo e qual a importância disso, por exemplo, no processo democrático? Acredita que elas sejam armas para questionar os governos e possíveis candidatos a cargos públicos?
Acredito que de maneira geral sim. Quanto mais acesso à comunicação em rede, mais chance da população encontrar informação sobre um determinado candidato, e se organizar em torno de suas causas. O que vimos no oriente médio e agora com o Occupy Wall Street é uma amostra disso. E é por isso que sou totalmente contra as formas de controle excessivo da internet, como propõe por exemplo o senador Eduardo Azeredo. No permanente estado de sítio que ele propõe, um tweet contra um governo autoritário poderá ser reprimido com violência.

Alguns políticos se dizem adeptos ás redes sociais, mas, na verdade, seus perfis são utilizados por assessores. Como o contato direto dos candidatos com a população pode gerar um resultado mais positivo na hora do pleito?

Muitas vezes não é o próprio candidato quem senta na frente do computador e digita suas mensagens. É possível entender a dificuldade de fazê-lo na correria da campanha. Mas as assessorias podem ajudar o candidato a participar do debate e da conversação (por exemplo, selecionando mensagens mais interessantes e pedindo ao candidato que as responda verbalmente). Este contato direto vai ajudar o candidato a levar suas propostas a mais pessoas, a esclarecer ideias erradas e debelar campanhas difamatórias, e se os eleitores se identificarem com suas propostas, irão amplificar a comunicação do candidato.

Acredita que em poucos anos as redes sociais poderão substituir os mecanismos tradicionais de campanha, tais como programas de televisão e rádio, ou pelo menos tornarem-se tão importantes quanto?
Acredito que irão cumprir funções diferentes, com crescente importância da web e das mídias sociais, mas sem substituí-las ou suplantá-las no curto prazo.

Por quê?
Cada meio tem sua especificidade: o rádio não segue tendo sua importância mesmo depois do advento da televisão? A web e as mídias sociais devem ser complementares aos outros meios, e provavelmente irão se fundir com eles em lugar de substituí-los (assim como as radionovelas migraram para a TV, por exemplo).

Quais os cuidados necessários na hora de utilizar uma rede social? Pergunto isso porque é comum nas campanhas a criação e fakes para atingir candidato A ou B.Fakes acabam sendo percebidos cedo ou tarde, e a revelação do expediente desonesto vai custar caro à imagem do candidato. É preciso estar atento para este tipo de armadilhas, mas de maneira geral, não vejo como o impacto ser muito grande. Não há "atalhos" que realmente funcionem, é preciso trabalhar de forma propositiva e com uma comunicação estruturada, para gente de verdade.

O mau uso não pode confundir o eleitor ou transmitir uma imagem errada do candidato?

Sim, sem dúvida. Num perfil pessoal quem está falando (ao menos deveria ser) o próprio candidato. É muito fácil fazer propaganda negativa de si mesmo.

Qual a importância das redes sociais do processo político e eleitoral em si?

Acredito que a maior importância é criar canais mais democráticos para a circulação de ideias sobre a política. A Marina é um excelente exemplo: conseguiu quebrar a polarização que havia entre Dilma e Serra, e compensou o pouco tempo que tinha em rádio e TV. Ela só conseguiu atingir a marca dos 20 milhões de votos porque suas ideias encontraram eco na sociedade brasileira, e em grande parte porque ela (e nossa equipe) soube fazer estas ideias circularem entre os eleitores, sobretudo através das mídias sociais. Um ponto que pode vir a se tornar interessante nos próximos anos é a possibilidade de arrecadação para campanhas via web, iniciada no Brasil somente em 2010, já no meio da campanha. Ainda não temos esta cultura, mas se for viável financiar campanhas com o dinheiro de muitos eleitores no lugar de uns poucos grupos econômicos, estaremos garantindo governantes e legisladores sem o rabo preso, e compromissados apenas com seus eleitores e a população. Sei que vai levar tempo para fazer parte da cultura política brasileira, mas espero que se torne uma realidade pelo menos para uns poucos bons candidatos já nestas eleições.
Entrevista concedida ao portal A Crítica (Manaus).

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